Açúcar
- Rafaela Chor
- 16 de fev. de 2023
- 2 min de leitura
Você tinha os olhos arregalados como quem nunca havia visto antes o mundo da cor que ele realmente é.
Me parecia um tanto assustada com as adversidades da vida e eu, que nunca fui muito boa em confortar os outros, me senti encarregada de mostrar que o universo tem sim a sua beleza e as suas formas de surpreender.
Eu tentava aos poucos pegar teus dedos e passar pelas árvores, te mostrar a textura que tem o limo depois da presença da chuva. E a própria chuva em si eu fiz questão que você pegasse, já que era algo que só havia te trazido más lembranças.
Eu estava ali para criar novas memórias, recordações positivas que você nunca havia experienciado.
A chuva, como dizem, por menor que seja, tem lá seus jeitos de lavar a alma, e cada minuto que você passou debaixo dela valeu à pena pelo sorriso estampado em seu rosto. Meu bem, você precisava ver.
Coloquei em sua língua mel para que pudesse sentir quanta beleza há em apenas uma gota. Você me pediu mais, se lambuzou e lambeu os dedos como uma criança que descobre o açúcar pela primeira vez.
Lembrar-se do gosto do açúcar é entender que há sensações em nossas vidas que não podem ser apagadas nem se quisermos.
Fazer com que você se lembrasse do lado positivo da vida me fez enxergar também que eu mesma já havia me esquecido de muita coisa.
Ah, meu bem, como era bom te ver desenhar pelo mundo com a dança dos seus pés. Teus cotovelos guiavam movimentos enquanto a sua cabeça não passava de nada além de uma acompanhante para o seu baile solo.
Digo solo porque eu estava ocupada dançando em meu próprio ritmo ao te observar fazer movimentos jamais esperados por todos que já te conheceram.
Essas coisas são mesmo bem malucas, não é mesmo? Envolver-se num solilóquio corpóreo onde todos os movimentos fazem parte de algo que já estava guardado de si há muito tempo implorando para sair.
Eu queria que você pudesse se enxergar com os olhos das pessoas que estão te conhecendo agora te enxergam. Olha como você se tornou fruto amadurecido em tão pouco tempo. E eu não tive nada a ver com isso, tudo já estava enraizado dentro de você, só precisava que alguém mostrasse a saída mais próxima.
É você que faz com que a vida fique mais atraente aos olhos e não há nada mais gostoso nesse mundo do que passar a tarde com você desvendando os pequenos mistérios dela, como: qual formiga decide o destino da sua próxima caminhada em grupo, qual a frequência ideal para se dizer “eu te amo” a alguém e como são feitos os poemas de amor que perduram por anos.
O que eu quero que você realmente enxergue, meu bem, é que a beleza do mundo está nos seus olhos e não há nada de errado em ver embaçado vez ou outra, nem tudo pode ser bonito o tempo todo.
Nem sempre uma rosa será firme e nem sempre o açúcar será doce, mas o importante é lembrar que tudo é passageiro e breve.
Levante a cabeça, meu bem, o mundo está esperando pelo teu sorriso.

Comentários