Para pessoas supersensíveis
- Rafaela Chor
- 8 de fev. de 2023
- 3 min de leitura
Talvez isso signifique que eu seja frágil demais para lidar com as mesmas coisas que o mundo todo lida.
Ou talvez isso seja apenas mais uma das pequenas qualidades que as pessoas denominam insignificantes e veem com maus olhos.
Ser sensível demais me é uma praga, e sempre foi. Sentir tudo numa velocidade acelerada com o peito em escaldantes batidas sempre me foi natural. São dores em diversas partes do corpo, mas principalmente no estômago, são noites em claro, são comidas não ingeridas. Por que diabos então as pessoas não sentem do jeito que eu sinto?
Por que elas não choram como eu choro? Por que elas não falam das cascas das árvores crespas, ou do formato da lua que parece uma unha cortada do pé, ou dos pelos dos braços que se levantam em coreografia quando se está frio?
Por que?
Ser supersensível me parece errado certas vezes, e lá vem eu novamente com a mania de querer acertar o que não tem acerto. Mas me parece errado pelo fato de que ninguém compreende o quão difícil é viver neste mundo parcialmente terrível em que vivemos. Digo parcialmente porque tem coisas que o salvam, como as cascas das árvores crespas, ou do formato da lua que parece uma unha cortada do pé, ou dos pelos dos braços que se levantam em coreografia quando se está frio.
Essas coisas salvam o mundo. Essas coisas me salvam.
Me desafogam de uma corrente d’água que me puxa pra baixo e tende a me deixar sem fôlego para mais uma remada.
No momento eu observo a lua, e junto dela me vem o pensamento “quantas pessoas será que já agradeceram pela lua hoje?” Talvez outras pessoas super sensíveis tenham agradecido e, pelo amor de Deus, como eu gostaria de conhecê-las.
Gostaria de saber como elas lidam com a pressão do mundo, com o fato de ninguém reparar nas obviedades que eu observo.
Eu gostaria de saber como se faz para ser adulta numa sociedade que te coloca no lugar de criança por você sentir demais.
Hoje me falaram que eu teria que viver numa redoma e isso dilacerou meu coração em pedaços, pois eu, que sempre fui de ter gente por perto, me senti como se o mundo me obrigasse a me isolar para que eu pudesse lidar com ele.
Eu senti meu estômago embrulhar e decidi que preciso amadurecer, logo eu, que já me sentia madura desde a infância. Será que tem como envelhecer antes da hora para poder conviver harmoniosamente com as adversidades mundanas?
Será que eu, aos 28 anos preciso transparecer que tenho 34 para ser levada a sério só porque eu sinto demais?
Esse questionamento não tem resposta, ou pelo menos eu não tenho uma resposta. E se você veio ler este texto buscando por uma, eu sinto muito, mas ainda não a encontrei. Porém tenho algumas teorias.
O que é ser supersensível, então?
Eu acredito que seja alguém que já teve experiências demais nesse mundo quando falamos dos sentidos, e cada sentido aguçado faz com que esta pessoa se torne supersensível ao que vem de extra, o que é desnecessário, por exemplo, as demandas de um trabalho chato.
Isso se torna desafiador para o supersensível, e para uma pessoa com sensibilidade padrão não parece ser nada demais.
O supersensível também pode ser aquela pessoa que entende no cerne da questão o que é necessário e desnecessário, e faz questão de focar nas coisas importantes, deixando as supérfluas de lado.
Exemplo: O supersensível pode receber uma tarefa para fazer do outro lado da cidade e se distrair contando nas ruas o número de paralelepípedos com flores nascendo ao seu redor. Flores, que as pessoas, com pressa, jamais verão. Flores, que as pessoas focadas em chegar do outro lado da cidade jamais enxergariam, pois estão preocupadas demais com a linha de chegada e não veem o caminho.
A questão agora é, você vê?

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